sábado, 18 de outubro de 2014

Warst du schon mal in Bahia? - Parte 2

Ana Pessoa é uma mulher alta, magra, que ainda guarda um quê dos hippies que frequentavam a região. Bióloga de formação e hoje dona de pousada e restaurante, ela desembarcou em Santo André com seu primeiro marido, em 1983. Naquela época não havia luz elétrica, água encanada, estrada ou balsa. Depois de atravessar o rio numa canoa, era preciso caminhar 2 quilômetros pelo mangue. Os banhos eram no córrego. A luz elétrica, ela lembra, chegou a tempo de mostrar na tevê a queda do muro de Berlim e a novela Tieta.

A queda do muro de Berlim

A vila foi crescendo e sendo loteada por italianos, argentinos, alemães, paulistas e outros forasteiros. Com o surgimento de pousadas e restaurantes, a instauração da balsa e o asfaltamento da estrada, Santo André se tornou um destino turístico acessível e calmo. Em meados dos anos 2000 foi construído o primeiro resort, o Costa Brasilis, que acabou abrigando a imprensa durante a Copa. Na ocasião, temeu-se o fim da tranquilidade do lugar. Hoje, placas de venda de terrenos pululam pelo vilarejo, algumas em alemão ou inglês.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tieta_%28telenovela%29
Betty Faria foi destaque em Tieta
Em fevereiro de 2014, o Campo Bahia não dava pinta de que ficaria pronto a tempo. Faltavam menos de cinco meses para a Copa e as paredes ainda estavam sendo erguidas. Não havia sinal de telhado, janelas, portas, acabamento ou paisagismo. Abrangendo uma área total de 15 mil metros quadrados, era uma empreitada ousada, especialmente no calor da Bahia.

“Foram mais de 300 operários na obra”, conta Railan, um rapaz tímido de 18 anos que trabalhou como servente. Quando os jogadores chegaram, no dia 8 de junho, alguns arremates ainda estavam por fazer. Recrutados em cidades vizinhas, vários dos peões ficaram morando em alojamentos e pousadas. Ao estilo Brasília, faziam turnos dobrados. Houve algum transtorno e pequenos roubos durante o período.

Como Santo André fica em área de preservação ambiental, a aprovação da licença de novos empreendimentos pode levar anos. “O Campo Bahia foi construído em cinco meses, sem audiência pública e sem licença ambiental”, afirma Rogério Paixão, um homem com sotaque carioca e pinta de bon vivant. Na vila há quase trinta anos, à frente de uma pousada, ele é dos mais céticos com relação às vantagens coletivas da passagem da seleção alemã. Paixão afirma ainda que “a construção do campo de treinamento desmatou mais de 20 mil metros quadrados de restinga”. Restinga é uma vegetação costeira sobre terreno arenoso, citada no decreto de preservação ambiental da região.

No Brasil, a restinga pode ser definida como um terreno arenoso e salino

Em conversa por telefone, perguntei a Tobias Junge sobre a licença ambiental. Ele afirmou que dispõe de todas as autorizações desde 2009 e que “houve muita difamação sobre o Campo Bahia”. Documentos do Ministério Público Estadual, no entanto, apontam que foi feito um Termo de Ajustamento de Conduta que obrigou os proprietários a pagar uma multa de 300 mil reais por crimes socioambientais. O termo é um procedimento que busca evitar uma ação judicial, por meio do comprometimento das partes, perante promotores públicos, de realizar uma contrapartida para compensar um eventual problema. Perguntei a Junge qual foi a razão do termo e da multa. “Isso você pergunta ao Ministério Público, porque tem coisas no Brasil que eu não entendo”, respondeu, dando o assunto por encerrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário